2007-11-25

Visita a usina Jorge Lacerda

Breve relato sobre a visita a Usina Jorge Lacerda / 857MW – Tractebel, no dia 28 de março - Aniversário do furacão Catarina.





Direção técnica da Jorge Lacerda / Tractebel recebe entidades de Araranguá com ‘’cordialidade, responsabilidade e muito respeito, mesmo sabendo da posição das mesmas mediante a poluição que a atividade carbonífera causa ao Rio Araranguá e a atmosfera da região. O convite inicial foi endereçado a ONG Sócios da Natureza que repassou as outras entidades representativas de Araranguá (conforme relação em anexo) que tem demonstrado real preocupação com a natureza e a qualidade de vida da população araranguaense e região, sendo uma participação espontânea de extrema beleza democrática, coisa rara neste mundo guiado por interesses políticos e econômicos. Esta união de entidades e cidadãos de formação diferenciada, mas de objetivos comuns caracteriza o movimento pró-Araranguá, iniciado em 1998 com a finalidade de evitar a duplicação por dentro da cidade, entre outras campanhas, e que agora recebeu a denominação carinhosa de ‘’Mutirão de Cidadania’’

Inicialmente os técnicos mostraram a atuação da empresa Tractebel / Suez em todo o país e a parte teórica de como se faz energia para em seguida mostrarem as instalações físicas da usina, principalmente o processo da transformação em energia, com a queima do carvão nas fornalhas, passando para as caldeiras e chegando a pressão nas turbinas que giram 3600 rpm, que resulta na ‘’mágica força’’ para um campo magnético que passa a rede de distribuição. É uma tecnologia complicada, mas admirável, digna de conhecimento, pena que o processo mostrado não seja sustentável e renovável (Mas programaremos uma visita ao parque eólico de Osório, uma das fontes mais renováveis!) A grandiosidade da engrenagem não permite pensar em outra coisa senão na capacidade do homem no avanço tecnológico e científico. Afinal, a energia é uma das maiores invenções da humanidade, pois trás conforto e facilita o desenvolvimento da economia e da ciência. O complexo termelétrico tem capacidade para gerar 857MW – o maior da América do Sul, mas não está operando com toda sua capacidade (Portanto a região não precisa instalar mais geradoras, e caso venha necessitar, que sejam as renováveis). A penúltima parte da visita nos levaram ao centro da cidade de Capivari para mostrar uma estação de monitoramento do ar, no qual afirmaram ser o mesmo programa e equipamento utilizado pela CETESP. Pode até haver seriedade nos índices mostrados dentro dos parâmetros legais, mas coloca em dúvida a veracidade das informações, já que é a própria empresa que monitora porque a legislação permite. Sugerimos a formação de um comitê de acompanhamento eclético, custeado pela empresa para dar veracidade e credibilidade às mostragens. Na última etapa conhecemos o horto da usina, vimos belos exemplares de pau-brasil e tomamos conhecimento de uma condição, que eles só crescem se plantados próximos um ao outro para a troca de pólen. Sugerimos ao Analista de Meio Ambiente Marcelo Caneschi, responsável pelo horto e ao Zequinha (exemplar dedicação de deficiente físico), o plantio de verduras, flores e árvores nativas sobre as áreas recuperadas para testar a qualidade do trabalho. As recuperações realizadas pelas mineradoras na região de Criciúma são verdadeiras “maquiagens cosméticas”... Estamos acreditando que as recuperações da CSN venham a reverter esta imagem de trapaça pública, já que a mesma quando estatal explorou o ouro negro durante décadas, deixando um passivo ambiental quase irrecuperável na bacia hidrográfica do Rio Araranguá.

Registra-se que durante as oito (8) horas que passamos no complexo, fomos muito bem recepcionados e tratados, desde um café com frutas até um saboroso almoço. Os técnicos Magri, Athiele e Laydner repassavam informações e incessantemente respondiam os questionamentos, diga-se todos bem formulados e fundamentados pelos 27 visitantes, finalizando com um produtivo debate objetivo e transparente. Observamos que na abertura da apresentação, surpreendeu, positivamente, um painel mostrando todos os impactos da usina, ao passo que perdeu credibilidade ao omitir a emissão de CO² na atmosfera, a exemplo de como mostraram em detalhes a emissão do SO² e NO². Contra argumentaram dizendo que a legislação brasileira não aborda esta questão sobre o gás do efeito estufa, que não é poluente e que o mesmo não afeta a saúde e o meio ambiente. Este ponto não satisfez e tentaremos numa outra oportunidade provocar os técnicos a reaver esta questão. Não é porque não existe legislação neste sentido que o poluidor deve encruzar os braços, muito pelo contrário, a grandeza da empresa tem que superar esta falha da legislação brasileira e se colocar a disposição de estudar soluções práticas e viáveis para reduzir os danos ambientais, a saúde pública e a atmosfera. Entendemos não ser desta forma que irão desvincular a imagem de emissores de CO², responsáveis diretos pelo aquecimento global. Comparando dados publicados, calculamos que a Jorge Lacerda deve emitir aproximadamente 2.500 milhões de toneladas por ano de gás carbônico na atmosfera. Portanto, uma nova sugestão: reflorestamento urgente para anular estas emissões de CO². Uma boa idéia seria investir na recuperação da mata ciliar da bacia do rio Araranguá.

Quanto ao impacto que a exploração do carvão causa a natureza, no caso especificadamente ao rio Araranguá (pH 3), responderam que ao comprar o carvão, única condição exigida às mineradoras, é o licenciamento ambiental do órgão oficial. No aspecto comercial tudo bem, mesmo considerando que ‘’compramos o produto’’ da usina, mas no ambiental não, porque dentro do contexto atual deve-se agir localmente e pensar globalmente. De nada adianta todo esforço demonstrado pela usina, se compram um produto que comprovadamente causa uma brutal agressão à natureza. O baixíssimo pH da água do rio Araranguá é a maior prova.

Questionamentos sobre crédito de carbono e MDL também foram debatidos, mas deixaremos para comentar no próximo documento, já que as diretrizes do Protocolo de Kyoto precisam ser reavaliadas. E finalmente a pergunta que não quis calar, formulada em 2003 num seminário sobre carvão no Itamarati, em BSA, no qual perguntamos ao Presidente da Tractebel do Brasil, Senhor Manoel Zaroni Torres, por que a Tractebel não substituía o sistema da JL para o de leito fluidizado, considerado menos poluente? Não culpamos o Sr. Torres, mas o Secretário Executivo do SIECESC, Eng. Fernando Zancan que impossibilitou esta resposta verbal as outras perguntas elaboradas por escrito por nós e pelos Amigos da Terra de POA. A resposta não é muito diferente da que imaginávamos. Seria necessário trocar caldeiras e outras transformações significativas na usina e entendem que não haveria grande diferença na emissão de gases, enfim não está nos planos da empresa substituir, talvez sim, mas numa nova unidade. Este período de quase cinco anos para obtermos uma resposta, representa muito bem o arcabouço que o setor da exploração carbonífera quer manter sobre a poluição que causa ao meio ambiente. A recusa não trouxe nenhum benefício ao setor, muito pelo contrário, as críticas resultantes deste incidente sempre os acusaram de prepotentes e covardes para enfrentar / discutir o conflito aberta e democraticamente com a sociedade afetada, desde a ignorante até mais consciente e esclarecida.

Percebemos que parecem estar com bem menos ‘’culpa no cartório’’ que as mineradoras, pelo menos admitem os impactos ambientais que a geração causa, tornando-os transparentes a opinião pública. Convidar-nos é uma demonstração desta nova postura? De certa forma não deixa de ser uma aposta, pois quanto mais distante dos críticos pior será, porque não conhecerão os avanços tecnológicos, os esforços mitigadores e os investimentos para a redução dos impactos. Seria esta a estratégia da Tractebel? Os tempos são outros, o ajuste de condutas e de comportamento deveria contemplar os poluidores, os governantes, políticos e a comunidade ambientalista, para não serem rotuladas de xiitas. Muitos interpretaram o convite como uma tentativa de subornar a ONG para não mais os criticá-los. Outras perguntas e comentários foram realizados e constarão em um outro documento a ser elaborado após a reunião de avaliação entre as entidades participantes, marcada para as 19hrs, do dia 01/05 no auditório da AMESC.

Um documento contendo as propostas e sugestões (em anexo), como o patrocínio de um evento (ou mais) para democraticamente discutir os impactos que o setor de mineração causa ao meio ambiente, programas de educação ambiental diferenciados e abrangentes e a distribuição de 1000 (mil) exemplares do filme ‘’Uma Verdade Inconveniente’’ do Al Gore foi entregue ao Diretor de Meio Ambiente, Eng. Jose Lourival Magri, que prometeu avaliar o documento com a equipe e responder na medida do possível. As outras reivindicações também são justas, apesar de não corresponderem à política da empresa, que tem procurado investir apenas em Capivari e Tubarão, como se fossem apenas estes municípios os afetados pelos impactos ambientais da usina. A maléfica chuva ácida ‘’transita muito bem pela região’’, de acordo com os ventos. Não que queiramos que os investimentos venham a calar os beneficiados como ocorre com os citados acima. A questão está acima destas possíveis fragilidades do qual não temos controle, mas voltamos a insistir na retórica do poluidor pagador. Não que estejamos concordando com a existência da usina Jorge Lacerda, mas aceitando-a como um mal menor (e necessário) perante a ameaça de mais duas a queimar carvão na região, como os projetos da USITESC/440MW e MARACAJÁ/375MW, inconcebíveis e insustentáveis para serem instalados em pleno século XXI, quando o mundo inteiro aponta a queima de combustíveis como os principais causadores do aquecimento global. Pelo demonstrativo apresentado, a empresa diversifica muito em medidas compensatórias, sendo que as nossas propostas e sugestões podem não ter causado surpresa, mas entendemos serem inusitadas, sérias e de grande abrangência e relevância para o processo de educação ambiental junto à população, de esclarecimentos a opinião pública e de benefícios à natureza.

Cada vez mais estamos convictos de que estamos fazendo a nossa parte com dignidade como ONG ambientalista, cumprindo com os objetivos de buscar a preservação da natureza e uma melhor qualidade de vida para a região sul de SC. Temos de uma forma ou de outra, procurado a promoção de um diálogo aberto com as principais fontes poluidoras da região, porém tem sido muito complicado, pois por um lado uns ficam receosos e por outro somos criticados por alguns setores da comunidade ambientalista. Aceitamos contestações de quem discordar de nossas ações e atitudes, desde que embasadas de fundamentação ambiental e científica, pois nossa trajetória histórica de 27 anos, de derrotas e vitórias, nos permite continuar a agir de acordo com a disposição do voluntariado que exercemos.
OBS. Uma idéia surgida após publicação de matéria na mídia regional sob o titulo de ‘’carbon free’’ será levada em consideração pela vital importância do momento, onde proporemos o plantio de 100 mil mudas de mata nativa nas matas ciliares dos rios da região sul de Santa Catarina.

Tadeu Santos
Sócios da Natureza

RELAÇÃO DAS PESSOAS QUE VISITARAM A USINA JORGE LACERDA EM 28/03/2007:


Adeirde Lemos Pedroso / da Colônia de Pescadores Z-16de Ilhas
Djalma Nilis / Sargento Bombeiro da Defesa Civil
Roberval da Silva / Presidente da OAB de Araranguá.
Lea Ainhon / Advogada Comissão de Meio Ambiente da OAB.
Rogério Pessi / do Conselho e Sindicato dos Agricultores de Araranguá.
Tzam Lin / Educadora do Colégio Vila São José.
Azairas Abati / Educadora do Colégio Castro Alves
Estela Maris / Educadora do Colégio Castro Alves.
Luis Leme / Agrônomo da Secretaria de Agricultura da PMA.
Sergio de Souza / Cidadão integrante do Instituto da Cidadania - INCID
Eliane Scremin / Coordenadora do Instituto da Cidadania - INCID
Valdelir Dé Cesconetto / da COOPERAR
Geraldo Mendes / Presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Vereadores.
Diego Gonçalves / Estudante Mídia Independente
Thais Soares / Psicóloga Mídia Independente
Ives Vergara / Reverendo Anglicano
Marlei Alhoeghetti / Técnica Agrícola da EPAGRI
Roney Kerber / Prof. Universitário.
Maurici Monteiro / Climatologista do CLIMERH
Marcelo Moraes / Climatologista do CLIMERH
Rafael Marques / Químico (indicado pelo Scheibe da UFSC).
Fernanda Guidi / Cidadã e Imprensa
Eng Agrônomo Rep Dep.Décio Góes.
Juliana V Santos / Historiadora ONGSN
Sandro Ramos / Publicitário ONGSN
José Mário de Boni / Advogado da ONGSN
Tadeu Santos / Ambientalista ONGSN.


Entidades convidadas que justificaram a ausência: AMESC, SAMAE de Araranguá, Núcleo Amigos da Terra / NAT e Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá / CGBHRA.

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UM OLHAR SOCIOAMBIENTAL

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Araranguá, Sul de SC, Brazil
Nascido em 22/07/1951, em Praia Grande/SC, na beira do rio Mampituba, próximo às encostas dos Aparados da Serra, portanto embaixo do Itaimbezinho, o maior cânion da América do Sul, contudo, orgulha-se de haver recebido em 2004, o Título de Cidadão Araranguaense. Residiu em Fpolis onde exerceu por dez anos a função de projetista de edificações e realizou o documentário em Super 8 sobre as eleições pra governador em 1982, onde consta em livro sobre a história do Cinema de SC. Casado, pai de dois filhos (um formado em Cinema e outro em História) reside em Araranguá. Instalou uma das primeiras locadoras de vídeo do estado. Foi um incansável Vídeomaker e Fotógrafo. Fã de Cinema sempre. Ativista ambiental da ONG Sócios da Natureza (Onde assumiu a primeira presidência do Comitê da bacia hidrográfica do rio Araranguá – na época um fato inédito no ambientalismo). É um dos autores do livro MEMÓRIA E CULTURA DO CARVÃO EM SANTA CATARINA: Impactos sociais e ambientais. www.vamerlattis.blogspot.com